A METAMORFOSE DE TIA HELY
Tia Hely sim, era uma mulher fogosa!
Era uma tardinha agradabilíssima! Um climinha frio envolvia a pracinha, um leve vento fazia dançar a copa das árvores e as pessoas proseavam, gargalhavam e alguns casais trocavam doces e singelas caricias. Naquela sintonia perfeita entre o tempo e o espaço, Tia Hely mergulhava em suas reminiscências e seus olhos brilhavam ao se dá conta de quantos casulos rompeu. Sua metamorfose foi realmente esplêndida.
Tia Hely sempre foi uma bela mulher. Na juventude arrancava suspiros dos garotos e hoje, caucasiana, continua estonteante e encantadora. Ainda muito jovem, dezoito anos talvez, conheceu um rapaz que tocou seu coração de forma tão peculiar, que, não obstante, pôs em seu dedo uma aliança. Se casaram, viveram momentos felizes, como em todo início de casamento, porém com o passar dos anos ela conheceu as agruras da vida “a dois”.
Momentos bons, momentos ruins como todo casal, mas, foi questão de tempo para aquele homem revelar-se um ser brutal, mesquinho, possessivo que não poupara a doce Tia Hely de palavras duras, ofensivas, cortantes como navalhas a perfurar sua pele e seu psicológico.
Foram anos cinzentos na vida de Tia Hely. Muitas noites trancadas no banheiro, chorava amargamente, lamentando a vida medíocre que levava. “Meu Deus, até quando vou suportar essas intempéries? Até quando? Será que nunca terei forças para partir sem olhar para trás”. Questionava-se com a alma em retalhos.
Apesar de toda a treva que envolvia sua vida, surgiu um pontinho de luz, Tia Hely foi agraciada com uma filha, que foi seu alento nos anos vindouros. Foi uma gravidez conturbada, aquele homem se tornava cada dia pior. Era realmente uma vida de reveses e reveses, com certeza não teria suportado se não fosse o colo aconchegante de sua mãe, o abraço materno onde sempre depositava suas lágrimas.
Depois que sua filha nasceu, Tia Hely passou ainda cinco anos suportando aquela existência, cuja alegria era aquele serzinho tão doce, tão angelical. A situação foi se tornando tão sufocante, que ela não conseguiu mais sustentar. Pegou sua filha e suas coisas e abandonou aquela casa na ausência do marido. Foi embora sem olhar para trás, sabendo que fez tudo o que uma mulher poderia fazer para manter seu casamento, mas não foi suficiente.
O sofrimento, a separação não conseguira apagar o brilho de Tia Hely, muito e muito pelo contrário. Um ano após o rompimento dos laços, ela se tornara uma mulher atraentemente impetuosa. Uma verdadeira metamorfose ocorreu em sua personalidade, ela decidiu viver a juventude que não viveu.
Tia Helly - aquela sim, era uma mulher fogosa -, degustou, como se degusta um bom vinho, noites e noites de aventuras e muitos amores. Viveu relacionamentos intensos, dançou, bebeu, fez amor, fez loucuras – Ah, foram tantas loucuras! – Pensava, enquanto esboçava um leve sorriso.
As noites mal dormidas, as lágrimas derramadas, as palavras amargas que ouviu, transformaram-se em combustível para as noites de puro êxtase, noites em que viveu seus encontros fortuitos, ouviu juras de amor eterno, palavras doces, riu extravagantemente, porém ela só queria viver, ela só queria recompensar o tempo perdido.
Em uma dessas noites loucas, em que saia com as amigas sem destino e sem hora para voltar, Tia Hely conheceu aquele que lhe assaltara todos os desejos de viver intensamente a liberdade que experimentara. Ela viveu momentos marcantes com seu novo amor - sim, já era amor- com quem mais tarde viera a dividir o mesmo teto. Ela voltou a crer que era possível construir um lar.
Um novo ciclo se iniciou na vida de Tia Hely. Agora era uma mulher mais forte, mais corajosa, construída a partir de várias histórias, cada uma com suas marcas e lições bem peculiares. Nessa nova caminhada, ela teve que lidar com a morte da mãe, talvez o momento mais difícil por que passou durante sua existência, o nascimento de um novo filho e muitas outras crises no casamento, porém com a força que a vida lhe imprimiu e com a sabedoria adquirida com o tempo, ela venceu cada obstáculo e hoje é deveras feliz com sua família.
Tia Hely sentiu os olhos marejarem ao rever o filme de sua vida passar bem à frente de seus olhos. Cerrou as pálpebras, fez uma prece e seguiu caminhando sentindo a leve brisa tocar em seu rosto.
DEDICO ESPECIALMENTE A MINHA QUERIDA AMIGA PARA SEMPRE ELISSANDRA BARRETO!!!!