Alguns meses se passaram e a vida paralela de Liam não deixou de existir. Certa noite, como muitas outras, chegou tarde, embriagado de tal maneira que adormeceu ali mesmo no sofá.
Verônica ao ouvir o barulho da porta, foi até a sala e se deparou com seu esposo completamente “apagado”. Ela olhava-o tão fixamente, com um olhar tão penetrante, como se tivesse cheia de medo, de temor. Não sei. Ficou parada por um instante observando-o. Viu que seu celular estava quase caindo do bolso da calça. Timidamente o pegou e sentiu seu corpo tremer, uma sensação de quem sabe o que vai encontrar se decidir investigar o que tem ali.
Verônica não se sobrepujou, foi até a cozinha, tomou uma xicara de café, desbloqueou o celular e começou a ver ligações, mensagens, fotos e vídeos. Cada arquivo revelado era como se um punhal fosse cravado em seu peito. “Não sei se a certeza dói mais ou menos que a dúvida”, pensava. No mais profundo do seu ser ela sabia, ela sabia da vida leviana que o marido levava há anos, mas nunca quis enxergar de verdade, nunca quis aceitar, sempre lhe bastou a imagem do esposo perfeito que lhe colocava em um pedestal. Porém agora, tudo se desfez como uma bolha de sabão. Verônica sentou, chorou amargamente e pela primeira vez se sentiu capaz de tomar uma decisão.
Aquela noite de intempéries machucou de forma cruel sua alma. Como conseguir olhá-lo com o mesmo amor, com a mesma ternura, com a mesma devoção? “ Eu não posso, estaria me violentando, me reduzindo ao nada. Eu me entreguei a esse homem sem reservas, foi uma vida dedicada a ele. Não, não posso”. Pensava Verônica.
Ela não conseguira dormir, passou a noite embebida de profunda tristeza, sua cabeça girava sem sair do lugar, as lágrimas pareciam queimar seu rosto. “Nunca pensei que iria doer tanto”, repetia em soluços.
Liam acordou, meio aturdido ainda, caminhou até o quarto e ao abrir a porta se deparou com sua esposa sentada, olhos vermelhos, transtornada e antes que abrisse a boca, Verônica exclamou: Você esqueceu de trocar a senha do celular!